quinta-feira, 28 de abril de 2016

EDITORIAIS | Março de 2008 e Agosto de 2009


Editorial ARC #  62 - Março de 2008

Merecemos. Refiro-me ao Prêmio Antônio Bento, concedido a Agulha Revista de Cultura por sua atuação e divulgação das artes no ano de 2007, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA.
Normalmente, editoriais de Agulha Revista de Cultura vêm sem assinatura. Independentemente de quem o redigiu, autoria é de seus editores. Expressam a opinião de ambos. Desta vez, fiz questão de assiná-lo, para o devido registro de que a idealização, concepção e projeto de Agulha Revista de Cultura são de Floriano Martins, bem como seu acabamento, a realização propriamente eletrônica, e a maior parte do restante do trabalho editorial – contato com colaboradores, recebimento e seleção de matérias, etc. E, também, para registrar que jamais, desde a criação desta revista eletrônica, deixou de haver concordância plena entre mim e Floriano com relação à orientação geral ou qualquer outro aspecto de sua edição e conteúdo.
Surrealistas não admitiam prêmios. Max Ernst foi excluído, em 1951, por haver ganho o prêmio da Bienal de Veneza (mas Jean-Pierre Schuster revela, em Le quatrième chant, que, no episódio, Breton foi voto vencido, assim corrigindo algo de sua reputação de autoritário e intransigente). Quanto a nós, este prêmio, aceitamo-lo com prazer. Por várias razões. Em primeiro lugar, por tratar-se, a ABCA, de entidade séria, com um corpo de jurados isento (alguns, sequer os conhecemos pessoalmente); enfim, por ninguém, aqui, haver alguma vez na vida cabalado prêmios ou enveredado por qualquer um desses tortuosos meandros da política literária.
E por um detalhe especialmente importante: o prêmio da ABCA é para revista, veículo de comunicação, em geral, e não especificamente para publicação eletrônica, do meio digital. Enseja, portanto, uma reflexão sobre jornalismo cultural, mídia impressa inclusive. Que alguns dos parâmetros de Agulha Revista de Cultura se projetem, que venham a ser adotados por outros veículos: não recuar diante da complexidade ou densidade; preferir o que está fora das pautas do mundanismo cultural, incluindo os temas “malditos”, a começar pelo sistemático e detalhado exame do surrealismo; empreender o diálogo com as literaturas e toda a produção cultural da América Latina e do mundo hispânico; e, ao mesmo tempo, entender-se como expressão da lusofonia, da criação em língua portuguesa.
Se o presente texto vem na primeira pessoa, são nossos, meu e de Floriano, o reconhecimento pela colaboração de outros meios eletrônicos, devidamente registrados em links de Agulha Revista de Cultura. Especialmente, inclusive por nos ampliarem o alcance e circulação, o pioneiro Jornal de Poesia de Soares Feitosa, e o TriploV de Maria Estela Guedes. E o registro, como fato animador, de que o crescimento do prestígio de Agulha Revista de Cultura é sincrônico com aquele de bons veículos eletrônicos, a exemplo, entre outros cujos acessos também figuram em nosso portal, de Cronópios.
O principal agradecimento, claro, é aos colaboradores. Sem essa quantidade de bons ensaístas e articulistas, de importantes artistas visuais, que se dispuseram a colaborar, que enviaram matérias e sugestões, não haveria revista.
Caberia o chavão de que o maior prêmio – nosso e de nossos colaboradores – são os leitores? Sim. O prêmio da ABCA completa o que se realizava através da quantidade de acessos a Agulha Revista de Cultura. Um indicador: sermos achados e consultados através do Google e outros dispositivos de busca, cujos critérios e algoritmos, por sua vez, levam em conta a quantidade de acessos. Daí figurarmos no topo dessas extensas listas, em uma quantidade de tópicos, nomes de autores e outros temas. Por isso vêm a nós tantos pesquisadores, e demais interessados.
Ano que vem, Agulha Revista de Cultura completará dez anos. Para nós, seus editores, é o começo, etapa de uma estimulante aventura intelectual.


Editorial ARC #  70 - Agosto de 2009

Agulha Revista de Cultura cumpre com esta edição um ciclo de 10 anos. Até aqui, foram 70 números. Significa dizer, considerando que em momentos fomos uma publicação mensal e em outros bimestral, uma média de 7 edições por ano. Também alternamos a quantidade de matérias publicadas ao longo de toda uma década, ora com 12, 15 ou mesmo 20 textos por edição – como neste último número –, o que nos leva à marca aproximada de 1.800 ensaios e entrevistas em 70 edições. Algo em torno de 80% desse material foi dedicado a temas latino-americanos, à criação artística e à cultura na América Latina. Não recuamos diante da complexidade ou densidade; preferimos o que está fora das pautas do mundanismo cultural, incluindo temas “malditos”, a começar pelo sistemático e detalhado exame do surrealismo; empreendemos o diálogo com a produção cultural da América Latina e do mundo hispânico e, ao mesmo tempo, nos entendemos como expressão da lusofonia, da criação em língua portuguesa. Por isso, Agulha Revista de Cultura circulou em português e espanhol, sendo talvez o único veículo assim constituído em toda a mídia eletrônica.
Cada número foi aberto por um editorial, acompanhando e comentado acontecimentos, da esfera artística e literária, e também política, além de contribuir para o debate sobre o alcance e consequências da Internet, acompanhando de perto a expansão do meio digital e do mundo virtual. Relendo o que foi escrito sobre o tema, percebe-se, pensamos, o equilíbrio: nem catastrofismo, nem messianismo salvacionista; quanto às críticas mais recentes à difusão de informações pela Internet, a própria recepção de Agulha Revista de Cultura é uma resposta aos profetas de mau agouro, aos que veem a diversidade de utilizações da rede como acarretando a vulgarização e o rebaixamento de nível cultural – cabe até repetir a crítica, já feita aqui, a essa transferência de responsabilidades, das consequências de carências das políticas públicas educacionais e culturais e das mídias institucionalizadas para o mundo virtual, aquele das páginas, sítios, blogs e dispositivos de busca ou relacionamento.
Enfim, todos os números de Agulha Revista de Cultura, desde os iniciais até os mais recentes, continuam e continuarão atuais. Prova-o seu crescimento como fonte de pesquisas e consultas, a descoberta por leitores que, estabelecendo contato, passaram a integrar a lista dos seus destinatários. Com o aprimoramento dos dispositivos de consulta na Internet, quem pesquisar sobre uma série de autores e temas, encontra matérias de Agulha Revista de Cultura entre as primeiras opções nas extensas séries de páginas disponibilizadas por esses serviços. Assim, restrita ao meio digital, ao mesmo tempo ultrapassou esse meio.
Some-se a essas realizações o fato de que um dos editores da Agulha Revista de Cultura criou e segue coordenando, para o Jornal de Poesia, a Banda Hispânica, banco de dados destinado à difusão de poesia de língua espanhola, abrangendo – até o momento – um total de 20 países e 550 poetas, o que significa cerca de 1.600 entrevistas e textos críticos dedicados à obra desses autores.
Assim Agulha Revista de Cultura realizou, em seus 10 anos de aventura editorial, o projeto que motivou sua existência: transformar-se em uma mesa de debate dos principais temas que envolvem a cultura e as artes em nosso tempo. Quando surgimos, não havia esse espaço na imprensa do Brasil. Virtual ou impressa, esta permanece quase de todo naufragada nas águas do entretenimento, sem oferecer ao público um espaço de reflexão, conhecimento, multiplicidade, e não apenas a informação de caráter comercial. Em geral, a imprensa trata seu público como mero cliente: é uma lástima que a área do chamado jornalismo cultural tenha adotado essa fórmula.
Ao longo dessa década e destes 70 números publicados, abordando os mais diversos temas, Agulha Revista de Cultura foi uma verdadeira prática de política cultural em um país mais afeito ao fuxico cultural. Ultrapassou a simples publicação de seus números: seus editores foram convidados para eventos literários em diversos países; definiu contratos editoriais, seja na área de poesia, ensaio ou tradução; formou parcerias com grupos editoriais também em âmbito internacional; ampliou o espaço de difusão de inúmeras revistas, inclusive com um intercâmbio de edições especiais dedicadas a alguns países
A trajetória de vida de Agulha Revista de Cultura é marcada por esse sentido singular de conquista e desbravamento. Não cortejamos o túmulo da glória. Arriscamo-nos sempre a difundir nomes de pouca circulação ou esquecidos, desde que não faltasse consistência a seu trabalho. Criamos uma Galeria de Revistas, espaço único na imprensa, tanto virtual quanto impressa, para a difusão e apresentação crítica de publicações similares. A cada edição apresentamos uma média de 50 obras do que chamamos de "artista convidado", buscando nomes, entre consagrados e até mesmo estreantes, em quase 20 países. Foram aprazíveis, valiosas e efetivas as relações alcançadas com colaboradores, leitores, instituições em todo este período. Evidentemente, o Brasil também participou dessa conjuntura, sobretudo no plano afetivo, apesar de nossa imprensa, em geral, ter-lhe dado mínima atenção, talvez apenas para confirmar o velho e perverso adágio popular de que santo de casa não obra milagre.
Concluir este ciclo editorial nos parece agora uma manifestação de compreensão do papel até aqui representado, e da consciência de que outros meios de prossegui-lo se apresentam como urgências que precisam ser atendidas. Agulha Revista de Cultura permanecerá, casa aberta aos visitantes do ciberespaço. O link será mantido, com a totalidade do seu acervo de matérias. Seus editores agradecem imensamente a contribuição de todos, pelo carinho da leitura, sugestões, envio de textos e consultas. Em particular, nosso agradecimento maior vai para Francisco José Soares Feitosa, que fundou e dirige o Jornal de Poesia, pioneiro em termos de utilização da Internet como veículo de circulação de poesia em todo o mundo, Feitosa que sempre nos apoiou de forma incondicional, ancorando a Agulha Revista de Cultura com toda sua amizade. Esse capítulo foi construído graças a um sentido inestimável de fraternidade. O que nos enche de felicidade o coração.



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Organização a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista convidado | Valdir Rocha
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

S1 | PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
S2 | VIAGENS DO SURREALISMO
S3 | O RIO DA MEMÓRIA

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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