sábado, 22 de novembro de 2014

Agulha Revista de Cultura | Fase II | Número 6 | Editorial




Dois loucos à beira do pote

LucebertZUCA SARDAN | Ciencia e Poesia se irmanaram, e agora sáo tres irmás, a mais velha sendo a Religiáo. Esta última envelheceu, hoje em dia fala meio sozinha, ou entáo com beatas italianas em dia de procissáo. Tia Religia náo pode mais torcer as orelhas de ninguém. Quem manda mesmo é a Ciéncia, tudo o que ela diz todos acreditam, ela diz pros burros, "vocés sáo uns macacos racionais", os burros acreditam e comeczam a se coczar .

FLORIANO MARTINS | A Madona Religare já havia cometido tantas atrocidades que não resmungou muito quando foi posta de lado pela Santa Lâmpada da Ciência. A desgraça veio mesmo é quando a Mecânica do Espírito esgasgou-se com a agulha da Estatítica Ego Summer e passou a regular seus passos pelos milhos do Ibope. A Ciência tornar-se Religião é o de menos. A catástrofe maior é quando a Arte se converte em Ciência. Abraxas

ZS | Já se transformou em artigo de luxo da Alta Porquezia… coelhos de ouro… macaquinho do Pivette Cantor em porcelana… etzzz etzzz

FM | De tal forma que nessa balança comercial das artes o que ganha é do outro, mas o que se perde é para si mesmo…

ZS | A balancza comercial das artes é chumbada com pornomerda pra peruas-chics deslumbradas.

FM | O Carnaval é sempre antes, querido.

ZS | Assim é que a gente te pega de boca na botija… sabes direitinho do kalendário da paróquia… O-Ro-Roooo… Ztás louco pra soltar foguetes na festa de Sáo Joáo… e tem também o pula-fogueira com buscapé… Padre Feijó também era fingidáo… Queria que o Vaticano permitisse casamento dos sacerdotes…

FM | O grande talento do Vaticano sempre foi comercial. E em um de seus capítulos capitais, o do comércio de almas, quanto mais triste, sofrida e desamparada a pobre dita, maior a sua cotação na Banvespa Ecomênica…

ZS | O comércio metafísico se lubrifica com o tráfico de Almas Proletas… Almas Capitalistas compram aczóes de Indulgéncia… e garantem um Purgatório macio, com modormia… Mas quem trabalha nas fornalhas do Inferno?…

FM | Ora, ora, mas o que é isso?! Dizem que não há calor humano mais intenso e contagiante do que o que se pode encontrar no Inferno. Ao Céu foram encaminhadas as bestas que acreditam que um dia o fogo apenas iluminará. "Não há redenção sem chaga" - diz a tabuleta à entrada do Inferno. Mas apurando bem a vista se nota que o dizer foi adulterado e ainda dá para distinguir a versão original: "Não há redenção nem com chaga".

ZS | Como diz Frei Feijáo: A chaga é de gracza, mas náo garante a Salvaczáo. Saiu anúncio no tablóide Nanico Torto, de propaganda do Cassino-Thermal Averno: Estamos oferecendo desconto especial de fim de estaczáo, de 50% pra sacerdotes, e, militares que venham juntos, seráo considerados como uma só família, e ganharáo o especial abatimanto de 70%. Aproveite! Lamas thermais, telefone, duchas ferventes, luz elétrica, água corrente, saláo de festas…

FM | Os primeiros 10 inscritos ganharão a História Suscinta da Revolta das Chibatas em 25 volumes, uma contribuição do Sebo Estalando-de-Novo, edição original em papel brochura, faltando o volume 17 - há dúvidas se o mesmo chegou a ser impresso - e os demais com a borda liquidada pelo tempo. Aproveite nosso pacote de visita guiada à Granja do Torto nas noites de sábado.

ZS | Noitada a bordo da Jangada da Medusa!!!… Churrasquinhos na brasa dos próprios comensais, sorteados na Tómbola de Minos… aproveite a total Liquidaczáo… Aczoites, tridentes, pregos, fornalhas de saláo…

FM | A mulata era tão bela, quem quer fazer o cabelo dela? Cacimbinha, Cacimbona, quem quer fazer um chamego nela? Sabiá lá na janela, quem quer tirar a fitinha dela? Cacimbona, Cacimbinha, quem quer ficar um cadinho nela?

ZS | O Camóes, como bom prutuca, tinha sua escurinha, que ainda náo chegava a ser mulata, mas já era pretinha… E no Delta do Mekong a chinesa afundou com o Rolo do Brasil… dos onze Cantos… só sobraram dez .

FM | O que era para ser começo de uma nova série total perdeu uma perna, ficaram somente nove. O que era então para ser a triplicidade do triplo perdeu uma perna, ficaram somente oito. Daí o que era para ser o símbolo da regeneração, perdeu uma perna e ficaram somente sete. Foi quando as sete direções do espaço deram uma topada e uma delas se perdeu, ficaram somente seis. Sozinha no balacubaco, sem saber o que fazer de si, a quintessência ficou confusa, perdeu uma perna, ficaram apenas quatro. A organização racional logo não se portou lá muito bem, perdeu uma perna e ficaram apenas três. Finalmente a síntese espiritual, o mundo parecia estar salvo, quando deu uma ventania e uma das pernas não se manteve no lugar, ficaram apenas duas. Entre a cruz e a espada, não havia jeito das opções serem satisfatórias, então rapidamente se arrancou uma perna e ficou apenas uma. Este símbolo do princípio ativo tende à megalomania e é melhor não lhe dar perna alguma. Restaria então o ovo órfico, com o qual já se sabe não foi possível fazer um omelete.

ZS | Perna por perna, o Pirata Perna-de-Pau náo chega à beira-dégua, porque o crocodilo já comeu a primeira, e está de olho na segunda.

FM | E o terceiro foi aquele a quem a Teresa deu a mão. Quantas laranjas maduras, quanto limão pelo chão… quantas mazelas esparramados dentro do meu coração… Uns indo pra lua, outros pr'Espanha.

ZS | Pior que a Espanha, por enquanto só mesmo a Grécia. Mas Portugal também está a bulanczaire… As Tres Graczas da Latinidade…

FM | Grécia, Espanha e Portugal, a fina flor do abacateiro de ponta-cabeça. Mais esperto de todos foi o Banco do Vaticano, que pregou a peça religiosa em todos e converteu a mitologia greco-romana em um bem sucedido comércio de almas.

ZS | Como sempre diz o Maquiavel, o Vaticano tem grande experiéncia no metié. E o Papa Bórgia… sabe manobrar.

Lucebert


   FM | Charrete nova na garagem, serventia a toda prova. Os brasileiros tão polidos aprenderam logo a comer coxa de frango com talher e torciam o nariz para a porção de grilos tostados. Rejeitando os hábitos da coroa e do mundo nativo, de tanto querer ser o que não tinha jeito, ainda hoje põem pra gelar o vinho tinto e recusam falar em sexo na frente das crianças.

ZS | Ordem e Progresso, Seriedade e Barbas probas. Procissáo e Positivismo. Nosso céu tem mais estrelas, nossa mata mais coelhos.

FM | Trat-ta-ra-t-a-tá, blém, belém, blém-blém-blém… Toró, toró, to-ró… Shi, shi, shi…

ZS | Li a entrevista com a Amanda Berenguer, ao final, com grande lucidez, fala que "vivemos uma civilizaczáo anestesiada ou excitada até o crime pelas imagens visual e sonora", de onde se destampam os Pangarés do Apocalipse: dos vídeos e joguinhos de aparelhos eletronicos manuais ou de saláo, gerando genocídios e massacres em escolas e lugares públicos, por asnosomens drogados e zumbificados… E as autoridades médicas, teológicas e governamentais ficam se perguntando "Mas porque o celerado fulano perpretou esse assassínio coletivo de crianczas e passantes distraídos?… PORQUEEE?… Como se os assassinos soubessem lá porque fizeram a sanguinolenta asneira… A resposta é simples: eles NÁO SABEM porque fizeram. A Burrice Assassina Globalizada é a última novidade do Século XXI. Os Quatro Pangarés do Apocalipse náo viráo mais… porque foram superados pelos Asnos do Porvir.

FM | Mas são apocalipses distintos. O Uruguai não é uma sociedade deformada pelo agrotóxico. Hoje seu maior dilema é o elogio da pobreza. Aqui caímos no conto de que a esperança é imortal. Já na PromiseLand, a devastação pela overdose virtual e sonora castrou de uma paulada só lucidez e percepção, daí que certo tipo de criminoso - sobretudo aqueles criados em meio ao turbilhão fanático dos jogos de guerra - mereça mais um sanatório do que a cadeia. No Pa-tro-pi, não, aqui ainda somos casos de xilindró. Porque o espalhafato da imagem e do ruído gera uma mescla suicida de tolice e esperteza. Somos um povo barbarizado pela malandragem e o besteirol.

ZS | Mescla suicida (e assassina) de tolice e esperteza (e metralhadora), malandragem, besterol (e defuntos a granel).

FM | Enquanto isto a flor do ócio devora spa-Gretchen inculta e bela, será ela, será ela, até morrer. E deu na sétima hora do dia, na Rádio Espertinha do Monte Santo, que o morto de honra, programado para o Baile da Virada, desgostoso com a barba que lhe apararam e o cabelo cortado à quenga de coco, se escafedeu ao mínimo deslize das beatas arrumadeiras, deixando vazio o crucifixo e em silêncio as cantigas de roda.

ZS | Fazemos pirambeira acima uma procissáo pra Santa Baldina… a seguir uma kermesse com sabugos de milho, pé-de-porco, balóes, baile de sanfona pula-fogueira… e está tudo resolvido.

Os Editores

SUMÁRIO

01 | CARLOS FRANCISCO MONGE | Un fantasma en la ventana: sobre la poesía de Francisco Amighetti
02 | EDSON MANZAN CORSI | Da vontade ao inconsciente: metafísica e metapsicologia entre Schopenhauer e Freud
03 | FLORIANO MARTINS | Figuras no tinteiro
04 | FLORIANO MARTINS | Susana Wald: la vastedad simbólica
05 | LUÍS CABRERA DELGADO | Por dónde anda la literatura juvenil latinoamericana
06 | MANUEL IRIS Rasgos comunes: una visión de Gonzalo Rojas y Juan Sánchez Peláez | Entrevista con Armando Romero
07 | MARITZA CINO ALVEAR | Sylvia Plath versus Alejandra Pizarnik… en un solo escenario
08 | MATEO RELLO | Manuel Rivas: el rayo que no cesa
09 | MIGUEL ESPEJO | Los meandros surrealistas
10 | THOMAS RAIN CROWE | Nan Watkins: Yvan Goll e a erva mágica da poesia
11 | WLADIMIR SALDANHA | Duas vezes Lêdo Ivo
ARTISTA CONVIDADO | LUCEBERT | Lucebert: poeta e visionário, pintor e testemunha ocular. Ensaio de Eric Slagter

Página ilustrada com obras de Lucebert (Holanda), artista convidado desta edição de ARC.



Agulha Revista de Cultura
Fase II | Número 6 | Janeiro de 2013

editor geral | FLORIANO MARTINS | arcflorianomartins@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FLORIANO MARTINS

GLADYS MENDÍA | LUIZ LEITÃO | MÁRCIO SIMÕES

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