segunda-feira, 7 de setembro de 2015

MARIA DE FÁTIMA NOVAES PIRES | Narrativa historiográfica, narrativa literária - a arte da escrita em João Gumes


Havia há anos, encravado nos sertões da província da Bahia, um sítio ameno e encantador. Um fidalgo português, veterano em várias batalhas, foi agraciado pelo Rei de Portugal, com aquele pequeno território. Ali fundou ele uma fazenda de plantação, com o auxílio de quinhentos escravos que possuía. Aqueles miseráveis, arrebatados de sua pátria pelos bárbaros europeus, viviam debaixo do jugo da escravidão, como leões agrilhoados. A sede de vingança nascia em seus corações [?], vendo-se como gêneros de tráfico; mas tinham medo de insurreição porque morreriam todos com as armas em punho. (João Gumes, 1874)

Na curta passagem desse conto, a descrição bucólica de um sítio “ameno e encantador” logo cede espaço às agruras da escravidão. Esse conto é da lavra do escritor João Antônio dos Santos Gumes, nascido em 10 de maio de 1858, na cidade de Caetité, no alto sertão da Bahia. [1] O seu legado, que abrange formas diversas de criação cultural, nos persuadem a observá-lo como um intelectual engajado, muito crítico das coisas de seu tempo, a exemplo da instituição escravista. [2] Para Gumes, a permanência daquela “velha e apodrecida instituição” (1888) representava um entrave às nobres aspirações de soberania e de civilidade que deveriam envolver o Brasil.
Referia-se à escravidão como “um cancro roedor da humanidade” (GUMES, 1874), uma prova evidente da subordinação do Brasil ao jugo estrangeiro ou (mais precisamente) ao “jugo tirano dos lusitanos”. Para ele, a escravidão havia sido obra da “Nação Portuguesa”, e a sua continuidade na conjuntura posterior a 1822, somente confirmaria a “nossa” subserviência colonial. A essas conclusões, presentes nos seus escritos juvenis, somaram-se outras. Em 1913, publicou matéria no jornal A Penna, assinalando novamente críticas às “raízes históricas” do Brasil, apontadas como grandes vilãs do “actual estado de cousas”:

Desde os tempos coloniaes duas classes muito distinctas entre si educam-se pessimamente para legar-nos este actual estado de cousas. Uma - a do senhor - habituou-se a mandar e a colher resultados óptimos do trabalho da outra, - a do escravo, - a mais numerosa e que constituía a verdadeira força, o capital productor. [3]

A postura progressista e crítica de Gumes pode ser explicada por uma formação intelectual privilegiada, promovida desde muito cedo no espaço doméstico. A atuação de seu pai como professor e proprietário de uma Escola Particular de Primeiras Letras, em meados do século XIX, informa um meio familiar culto, agindo como “uma instância formadora e socializadora relevante no processo de participação de Gumes na cultura escrita” (REIS, 2010). Soma-se a isso uma particularidade importante: os personagens de Gumes poderiam ser contemporâneos a si, haja vista que o autor trata da escravidão em sua própria conjuntura. Sendo assim, aqueles sujeitos criados em sua narrativa ficcional poderiam “compartilhar a mesma semântica da história” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2009). Esse aspecto nos leva a considerar, no trato crítico da literatura de Gumes, as noções de espaço de experiência e horizonte de expectativa, assinaladas por Reinhart Koselleck (2006).
Neste artigo, procedo a exame de configurações narrativas presentes nos escritos de João Gumes, que recorre sucessivas vezes a eventos históricos para temas de trabalho. Parte-se aqui do suposto de que os homens constroem mundos significativos por meio da linguagem, “essa testemunha ancestral da própria história” (SALIBA, 1996), atentando-se para o fato de que o ato de “aproximar-se do mundo pela linguagem não é típico das humanidades, mas da situação humana em geral” (GADAMER, 1975). Seguindo por essas linhas interpretativas, apresento brevemente dois escritos de João Gumes: o conto Uma insurreição de negros: Pequeno Esboço da Escravidam do Brazil, de 1874, dedicado “Aos Protectores da Liberdade pelo autor”, e a comédia-drama A Abolição, dividida em um prólogo, escrito em 1876, e três atos, concluídos em 1888. [4] Sobre o estilo de escrita desses trabalhos, a professora de Filologia Românica Conceição Reis (2004, grifos meus) nos diz:

O autor põe em confronto diversos materiais linguísticos, que vai testando, pondo em prática mecanismos de recusa, substituição, acrescento, deslocamento, até encontrar ou não aqueles que melhor designam as suas representações da realidade [...] O drama Abolição [é classificado como] ‘textos não passados a limpo’ [...] o prólogo do drama Abolição, [é um] texto que traz marcas das várias fases do trabalho de sua construção. [...] são cheios de hesitações, de correções que testemunham a dinâmica de espírito do autor no processo de gênese da obra.

Essas obras são aqui analisadas tendo em vista as semânticas temporais desenvolvidas por Reinhart Koselleck (2006). No exame dessas fontes, no sentido “do que o texto diz (mais ou menos completamente) e aquilo a que se refere” (MARTINS, 2010), busquei observar a historicidade do autor e obra, e as interfaces presentes em seus textos. Há, no conjunto de sua obra, elementos de um pensamento histórico permeado por noções setecentistas e oitocentistas: desde uma noção da história/passado como “mestra da vida”, que lega um exemplo ético ao presente; até às noções tributárias de uma concepção de tempo, que se manifesta para além de uma relação passado e presente. As obras de Gumes, em questão, revelam uma postura otimista diante do futuro, sugerem um horizonte de expectativa (no sentido de um futuro aberto). Como homem de seu tempo, informado por um letramento excepcional para as suas condições regionais, Gumes se unira às fileiras daqueles que acreditavam na “marcha da humanidade rumo ao progresso”. Para tanto, configurava narrativas ficcionais a partir de eventos contemporâneos a si, revestindo-os de arguta crítica política, social e de costumes:

Faz parte das novas experiências do século XVIII, quando a história foi levada a um novo conceito reflexivo, que também as paredes divisórias entre os campos do historiador e do poeta se tornassem osmoticamente permeáveis. Do poeta, sobretudo do romancista, passou-se a exigir que, se quisesse convencer e impressionar, ele deveria dar a palavra à realidade histórica. (KOSELLECK, 2006, grifos meus)

Vejamos as obras de J. Gumes em questão.
No conto Uma insurreição de negros (1874), acompanhamos a saga de duas famílias antagonistas, cujos membros são os personagens centrais da trama: de um lado, uma família senhorial, impiedosa e cruel; de outro, a família do escravo Jorge, sempre acossada pelas injustiças e crueldades daquela. O enredo é pautado pela luta corajosa de Jorge, um “mulato, alto e belo”, que lidera uma revolta contra os seus senhores. Após o relato de frequentes abusos senhoriais, sobretudo com a descrição detalhada de penosas cenas de açoites desferidas por feitor contra Jorge e seu pai (o “velho Adão”), o autor nos conduz ao clímax da história: os escravos insurgentes ateiam fogo ao “palacete/palácio” (Casa-Grande), eliminando de uma só feita quase toda a família senhorial. Daquela, salvara-se tão somente Júlia, a filha mais jovem, descrita como o “anjo tutelar dos infelizes”. No desfecho do conto, somos conduzidos à outra temporalidade: já se haviam passado vinte anos da revolta, e a antiga fazenda era agora habitada por Jorge e sua mulher, vivendo em condição muito remediada “porque sempre honrado”, mas livre do “jugo escravista”. Na última linha do conto, lemos uma menção à famosa frase de Maquiavel, escrita em latim: “Finis coronavit [coronat] opus”.
Passados dois anos desse conto, em 1876 mais precisamente, Gumes iniciou a escrita da comédia-drama A Abolição, concluindo-a em 1888. O enredo dessa nova história, concentrada nas décadas finais da escravidão, trata inicialmente da venda de escravos do sertão da Bahia para São Paulo, e logo evidencia uma possível repercussão do regime de trabalho escravo de fazendas paulistas entre moradores do sertão: “O escravo é uma machina e basta que trabalhe três anos em S. Paulo para que dê um lucro espantoso [...] Oh! É admirável o tino dos paulistas!” (1876).
Essa comédia-drama traz em seu prólogo a ação do comerciante de escravo, Antero, negociando os escravos Francisco e Ursina para São Paulo. Nos três atos seguintes, entram em cena escravos, senhores e senhoras (alguns adeptos da causa abolicionista), buscando reverter situações do comércio interno de escravos que condicionaram a vida de todos os personagens da trama. João Gumes dá voz, sobretudo, a Francisco, já na condição de ex-escravo, como um atuante advogado que, ao retornar ao sertão, expõe sua postura abolicionista (ou “propagandista”) aliada à bandeira progressista, como se observa nesta passagem:

Um só momento não deixarei de pensar no meu ideal, Capitão. Jurei à minha consciência combater até o último reduto a infame instituição e espero em Deus que irei até o fim; mas, depois que cheguei à minha terra, compreendi que outra campanha deve ser levantada aqui e que, ainda empreendida já, só conseguiremos resultados proveitosos depois de passarmos por grandes dificuldades. Devemos trabalhar pelo soerguimento e dignificação do trabalho.

No momento em que escreveu o conto Uma Insurreição de Negros e iniciou a comédia-drama A Abolição, Gumes lecionava como mestre-escola em ricas fazendas de Palmas de Monte Alto, localidade próxima a Caetité. Escravos nascidos naquele sertão, assim como aqueles das demais províncias do Norte, amargavam com a devastadora ação de comerciantes de escravos, que os compravam a preços muito elevados para suprir demandas de mão de obra nas províncias do Sul. Gumes certamente presenciou por ali a ação deletéria para a vida escrava provocada pelas frequentes negociações. Famílias inteiras desintegradas, assassinato de condutores, administradores e mesmo de senhores, diante do pavor crescente das temíveis “matas do café”. E não se tratava de um receio infundado: as “fazendas do Sul”, como aquelas de Rio Claro (SP), eram evitadas a todo custo por migrantes e imigrantes, e para lá foram comercializados muitos escravos das províncias Norte.
As obras em destaque trazem indícios dos modos como Gumes buscou recriar a sociedade escravista de seu tempo, sobretudo pelo crivo de sua própria experiência. Seu plano narrativo apresenta similaridades com a sua época: o escravo apresenta-se na condição de vítima e/ou de herói, lembrando os consagrados romances indianistas de José de Alencar, Iracema (1865) e o Guarani (1857). Gumes denota a influência dessas leituras e, mesmo sendo um homem pouco dado a viagens - não conheceu nem mesmo a famosa “Cidade da Bahia”-, acompanhou muitas das dinâmicas da vida social, política, econômica e cultural do Brasil e do mundo por meio de leituras e de um rico convívio social.
Diante daquela conjuntura, Gumes reconfigurava, em bases ficcionais, circunstâncias e episódios históricos, lançando mão de formas narrativas vigentes na cultura de sua época. Com isso, pretendo assinalar que as suas histórias e personagens não saíram de um espaço vazio, tal qual a imagem de um mágico retirando coelhos de uma cartola: os eventos que se interseccionam na sua narrativa são eventos de natureza histórica, mesmo que a sua atitude não seja propriamente a atitude de um historiador. Claro está que os seus textos prestam-se a bom escrutínio crítico de interessados por indícios de representações da vida social e de formas narrativas do passado.
Gumes expressava, ao longo de sua obra, uma visão de mundo articulada àquela dos chamados “escritores cidadãos” ou “mosqueteiros intelectuais”, tal como se verifica na passagem seguinte de N. Sevcenko (2003, grifos nossos):

Arrojados num processo de transformação social de grandes proporções, do qual eles próprios eram fruto na maior parte das vezes, os intelectuais brasileiros voltaram-se para o fluxo cultural europeu como a verdadeira, única e definitiva tábua de salvação, capaz de selar a sorte de um passado vazio de possibilidades, e de abrir um mundo novo, liberal, democrático, progressista, abundante e de perspectivas ilimitadas [cuja] palavra de ordem consistia [em] condenar a sociedade ‘fossilizada’ do Império e pregar as grandes reformas redentoras: ‘a abolição’, ‘a república’, ‘a democracia’. O engajamento se torna a condição ética do homem de letras. [5]

Gumes, escritor e romancista, acionava duas importantes condições de expressão da linguagem: o tempo e o espaço. Reinhart Koselleck (2006) nos diz que o plano da linguagem referencia a realidade: “[...] ela [a linguagem] nos faz lembrar a força peculiar às palavras, sem as quais o fazer e o sofrer humanos não se experimentam nem tampouco se transmitem.” Ângela de Castro Gomes (2008), consoante com essa perspectiva, nos diz: “Palavras, conceitos e realidade social são matérias primas do trabalho do historiador”, e, de fato, não cessamos de buscar fundamentos para conectar expressões da vida social. O exercício crítico da obra de Gumes passa pela análise de situações históricas do seu tempo; meio elementar para possíveis aproximações de visões de mundo que partilhava e projetava. Nesse sentido, o inquérito histórico extrapola os limites do texto em si, saindo de sua base ficcional, para sondar contextos nos quais autor e obra se inseriam.
Pode-se inferir que havia entre Gumes e os seus personagens uma correspondência temporal, ou seja, partilhavam de uma mesma semântica da história, como nos diria Koselleck (2006). No estilo narrativo de Gumes, há passagens para as falas dos personagens e de um narrador, incumbido de emitir juízos contrários à escravidão:

Quando será livre o Brasil?! Oxalá que a Providência nos prodigalizasse essa dita! O grito de independência dado no Ipiranga não nos livrou ainda do jugo estrangeiro [...] Escravidão! A quem devemos esse nome no Brasil!? Aos Europeus. E para que eles introduziram esse cancro no Brasil?! Para que nas eras vindouras, sacudindo-nos o jugo da Nação Portuguesa, ficássemos ainda dependentes. E qualifica-se isso de civilização! Não. A civilização, consta nessas palavras: não façamos a outrem o que não quisermos que se nos faça. (GUMES, 1874)

Um dos aspectos que se observa em romances de época, como no conjunto da obra de Machado de Assis, é o interesse em detalhar cenários e simbologias do comportamento social, elegendo episódios ou situações históricas como referentes. Em certas obras, alguns personagens são colhidos de experiências pessoais dos próprios romancistas. Dentre eles, quero lembrar o romance Bugrinha (1922), de Júlio Afrânio Peixoto (1876-1947), que apresenta como um de seus personagens um rico minerador da vila de Lençóis, na Chapada Diamantina. Esse personagem tem a função (na história) de lamentar a crise da exploração diamantífera em Lençóis; uma crise também verificável na documentação oitocentista daquela região.
Os atuais estudos historiográficos sobre estes sertões vêm entabulando importante diálogo com certa produção literária, seja para aproximarem-se de contextos sociais e culturais, seja para analisarem a produção deste ou daquele escritor. Esses novos trabalhos são hoje responsáveis por ultrapassar fronteiras historiográficas que elegeram na Bahia as plantations como lócus privilegiado de análise, legando aos sertões uma fisionomia de lugar “apartado, distante e isolado”. Nesse sentido, esses novos estudos estão atentos às produções de Paul Ricœur (1994) e de Michel de Certeau (1982), que consideram a produção do conhecimento histórico como tributário da pesquisa (pertinência empírica) e de uma escrita que se assenta em métodos (prática) e na elaboração discursiva (a escrita). Uma escrita ciente de que “as formas literárias afetam o nosso modo de escrever história” (DAVIS, 2000) e mais, uma escrita que “deixa transparecer ao máximo suas regras para que se visualize afinal, que por trás delas, é o presente que conta, não o passado” (SALIBA, 1996).
No contexto da afirmação de que “toda história é narrativa”, Ricœur (1994) tencionava refazer o caminho da sensibilidade, da estética, da imaginação e da inteligibilidade inerentes ao conhecimento histórico. Em Tempo e Narrativa (1994), afirma que a escrita da história não dispensa a interpretação, a imaginação, a estética, mas que mantém um compromisso com uma verdade (supostamente uma verdade de referência), apoiada em comprovações, em informações verificáveis, partilhando procedimentos comuns ao ofício. Uma escrita da história que assume contornos inscritos historicamente, muito próxima às conformações da arte, conforme assinala Maria Odila L. S. Dias (2002, p. 202, grifos meus):
Quem aprofunda bem essa atitude hermenêutica é o filósofo Georg Gadamer, para o qual o conhecimento histórico tende mais para a arte do que para a ciência. O tema foi retomado por Paul Ricœur. Literatura e história se aproximariam não pela forma ou pela fantasia, mas por causa da natureza do próprio conhecimento. O conhecimento das humanidades é tributário da imaginação, assim como a interpretação se configura como um processo criativo similar ao dos poetas, dos pintores e de qualquer grande escritor.
Gumes, apesar de pouco conhecido entre nós, parece-me um valoroso escritor de seu tempo. A sua incisiva denúncia da instituição escravista, associando-a a incivilidades urdidas em um Brasil que insistia em não mudar, parece não distar-se tanto (nesses termos) de agendas políticas atuais, cujas “bandeiras” revelam ainda (!) combates a arcaísmos, também atávicos. “Caminhando contra o vento”, podemos tentar uma imagem mais alentadora de um certo futuro, que parece nos avizinhar com jeito de pouca felicidade. Uma imagem alentadora talvez repousasse naquele “sítio ameno e encantador”, do conto de Gumes, ou no “pequeno principado de clima ameno e agradável”, da novela satírica de Hoffman, O pequeno Zacarias (1820).



NOTAS
1.  “João Antônio dos Santos Gumes nasceu no dia 10 de maio de 1858. Era filho do professor que lhe era homônimo, João Antônio dos Santos Gumes. Não tendo condições materiais de, como os filhos das famílias abastadas, encetar estudos fora da cidade, já aos dezoito anos consagrou-se aos labores do magistério primário (foi professor de meninos ricos, lecionando na fazenda Lagoa do Morro, do capitão Bernardo Pereira Pinto e, mais tarde, na fazenda Barriguda, de João de Farias) e à profissão de rábula, encargos que desempenhou com a proficiência que todos lhe reconhecem.”
2. Obras de Gumes: O Sampauleiro: Romance de Costumes Sertanejos (I – 1917/1922 e II - 1929/1932); Os Analphabetos (1928); Pelo Sertão (1913-14); Vida Campestre: narrativas dos costumes e hábitos dos lavradores do Alto Sertão Sul da Bahia (1926); Seraphina (188?); a comédia-drama A Abolição (1889). Os manuscritos Sorte Grande e Mourama estão sem datas, os fólios estão danificados. Destaco ainda o Intriga doméstica - farsa, com observação da professora Belma Gumes, a quem devo uma leitura criteriosa deste artigo: “Numa página, João Gumes se refere à Intriga doméstica como “farça”, na página seguinte, como “comedia”. No final, diz o autor: “Remodelada pelo auctor em principio de agosto de 1917.” Os seus romances seguiram o padrão de sua época, foram publicados em folhetim.
3. GUMES, João. Programa. A Penna, Caetité, Anno II, n. 29, p. 1, 19 fev. 1913.
4, REIS, 2004, grifos meus: “Descrição da versão: Texto em versão única, manuscrito autógrafo, completo, com 609 linhas. Texto em 10 fólios, dividido em doze cenas, com a numeração em algarismos arábicos. Mancha escrita em pena de aço de cor azul, lançada da primeira à última linha da pauta, entre as margens direita e esquerda do papel pautado azul, ao centro, presença da marca d’água em formato de uma flor e abaixo a palavra Dracones. Os fólios, sem numeração, foram costurados compondo um livro. A capa traz o título Abolição e a indicação Comedia em 1 prólogo e 3 actos por João Gumes. Apesar da letra bem traçada, o texto não [foi] passado a limpo.”
5. Em artigo anterior (PIRES, 2011), emprego o conceito “escritor-cidadão”, desenvolvido pelo historiador N. Sevcenko, especialmente no seu livro Literatura como missão (2003), para discutir a atuação de Gumes.


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Maria de Fátima Novaes Pires. Historiadora. Professora do Departamento de História (Graduação e Pós-Graduação) da Universidade Federal da Bahia/FFCH. Autora de artigos e livros, dentre os quais O crime na cor (2003) e Fios da vida (2009). Dedica-se especialmente às áreas de Teoria da História e História da Historiografia, Escravidão e Pós-Escravidão no Brasil. Página ilustrada com obras de Zuca Sardan (Brasil), artista convidado desta edição de ARC.






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